Vou p´ra qualquer lugar
Sou livre e tenho opinião
Por onde eu ingressar
Verão a minh´expressão.
Desculpe-me pela mágua
Ainda não foi destilada
Guardo no peito esta frágua
Do último pau-de-arara.
Disseram que distorceram
Aquele velho passado
Tornaram-no esquecido
Trancaram com cadeado
Mas a lembrança não se apaga
É a cicatriz que virou chaga
Levo na mala esta marca
Do último pau-de-arara.
Aquele velho verdugo
Que fez da farda um pijama
É tão ultrajante e bigodudo,
Hoje só chora e mama.
Se eu o encontro na estrada
Digo bem na sua cara:
"Será que você ainda resguarda
O último pau-de-arara?"
Amordaçaram um povo
Calaram as passeatas
Prenderam quem era novo
Deixaram os magnatas
Como gado fizeram massas
Sedadas com ferro em brasa
E pílulas televisionadas
Longe do último pau-de-arara.
Mas lá estive um dia
Em couro, carne e osso
Fizeram lobotomia
Jogaram tudo no fosso
Tristes foram os camaradas
Tidos como "da pesada"
Mas queriam salvar a pátria
Do útlimo pau-de-arara
Viera então a anistia
Voltaram tudo do zero
Passaram a mão na cabeça
Do baixo e do alto clero
Com nossa força desarmada
Pintaram a nossa cara
Engavetaram as atas
Do último pau-de-arara.
Mas nesta terra hoje surge
Desejo pela verdade
E o povo todo que urge
A paz em toda cidade
E eu também vou cutucá-la
Esta ferida que não sara
Quero tirar da minha alma
O último pau-de-arara
Porque é dela onde brotam fungos, transforma-se húmus, sucumbem túmulos, surgem larvas que se multiplicam e irradiam cheiro, cor e o ciclo da vida faz-se em flor.
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