sexta-feira, 12 de março de 2010

Matei um besouro


Um zumbido repentino me roubou a concentração, e quando olhei era um besouro posado de ponta cabeça ao lado da luz da sala. Não o queria ali, pois alguns insetos têm frequentado este apartamento ultimamente, sinal de que eu preciso arrumar isso aqui urgente. Olhei sua casca grossa e percebi que também me encarava. Era necessário uma medida drástica, pois certamente ele não me compreenderia e sairia em seguida voando pela janela. Mas não quis ser cruel. Dei-lhe duas opções: receber nesta casca grossa o perfume de um odorizante ou receber um belo jato de inseticida. Lógico que ele não iria me responder com palavras, então segurei cada lata com uma das mãos, levei-as às costas e sorteei sem olhar."Direita ou esquerda?" O besouro ficou em dúvida, precisava de ajuda, um inseto não é um bicho muito inteligente. Perguntei então de outra forma: "você é um besouro conservador ou é um besouro revolucionário?" Como um fóssil, ele não se movia, demonstrando muita tranquilidade. Este besouro não se intimidava em conviver com humanos. Devia ser um besouro revolucionário. Era de esquerda, sem dúvida. Apertei a mão esquerda e disse: "Seu destino está traçado, besouro".

Juro, eu não sabia qual mão segurava qual lata. Também não consegui associar qualquer relação com o que chamam de "esquerda", mas foi Uma pena a mão direita segurar o odorizante, talvez o besouro não morresse. Após o jato, ele caiu em espiral até o chão, exibiu a barriga amarela para cima, sacudiu as perninhas por uns instantes e aí sim virou um fóssil.

Não sei se tive pena do besouro. Este era seu destino.

Um comentário:

Táia disse...

Ah, esses metropolitanos. Não conseguem conviver com um bichinho. Na minha terra a gente no máximo pegava com uma folha de jornal ou revista e jogava o bicho pela janela. Seu mau! :P

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