Todos sabem a origem de Adriano. Se não fosse pelo futebol, talvez se enquadaria na lógica do "preto, pobre e favelado". Mulato, milionário e recebido em qualquer lugar do mundo, Adriano assumiu a todos o gosto pela favela. Em Roma não havia churrasco regado na lage e todo clima noturno da favela carioca, um refúgio para o atacante. Adriano também não consegue esconder as turbulências pessoais, que a imprensa fareja como um rato acha o queijo.
Flamenguista e favelado. Tais características transformaram-se, na cabeça das pessoas, sinônimo de mau elemento. No caso de Adriano, que tem origem em um dos locais onde o tráfico de drogas mais se instaurou no Rio de Janeiro, associá-lo ao consumo de entorpecentes não é tarefa difícil.
Ainda não compreenderam, por descaso ou ignorância, a origem de Adriano.
"Nunca usei drogas, nunca provei nada. Quando falam do Adriano aumentam demais. De repente é porque moro na favela e aí associam. Mas lá tem coisas boas, pessoas boas, não vou sair de lá . Sempre fiz os exames e nunca fui acusado. Aí fico chateado porque as pessoas botam isso no jornal e tenho minha família. Ela se preocupa. Não tem nada ver. Meu filho vai à escola e vão dizer: 'seu pai é drogado'. Antes de falarem, têm de saber o que aconteceu."
A chamada para a reportagem onde se encontra este depoimento dizia que Adriano acusou preconceito, mas não dizia qual nem de quem.
Deve ter sido da terceira pessoa. Sabe a terceira pessoa? Aquela onde o sigilo da fonte do jornalista mais aparece.
- Adriano, dizem que você anda usando drogas. Isso é verdade?
O preconceito da imprensa foi preconceito social.
Porque é dela onde brotam fungos, transforma-se húmus, sucumbem túmulos, surgem larvas que se multiplicam e irradiam cheiro, cor e o ciclo da vida faz-se em flor.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Duas duras realidades
Dura realidade I "Quando a lenda se transforma num fato, publica-se a lenda", disse o jornalista sensacionalista do clássico f...
-
Cuspo um texto de meu escarródromo mental. Uma crônica ficcional, nada muito normal aos olhos da multidão passageira, ao comportamento compo...
-
"Eu pensei que a lua não brilhasse, sob os mortos no campo da guerrilha, sobre a relva que encobre a armadilha ou sobre o esconderijo d...
-
Na beira do rio, dorme o seixo de pedra. Pego-o, olho e penso: sou temporal e passageiro, E ele, tão velho quanto o mundo inteiro. Sinto sua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário