Tive um sonho atualíssimo nesta noite: estava com um grupo de amigos (não me recordo de nenhum deles) num boteco, daqueles com azulejos de cores fortes, mesas de sinuca com feltro rasgado e copos mal lavados.
Boteco no alto de uma favela. Música alta ensurdecedora, fumaça e cheiro forte de cigarro no ar, mulatas e morenas jambo debruçadas no balcão, balançando os quadris semi-despidos. De repente, ouvem-se estampidos, tiros vindos de perto. O bar esvaziou-se e, sem me recordar a razão, permanecemos no local, enquanto entravam para averiguação alguns traficantes armados, com metralhadoras nas costas e pistolas na cintura.
No sonho, pensei: "Xi, fudeu! É minha hora." Comecei a contar os segundos que levariam para o grupos nos avistar, assim como imaginar quem cairia primeiro, ou ensaiar algum discurso de que éramos da paz e não iríamos atrapalhar em nada. Um deles falou:
- "Ih alá aqueles malucos ali!" - a aflição bateu, e eu acordei.
Acordei como se levasse uma martelada na cabeça. Coloquei a mão na testa e respirei ofegante. Mas o transtorno logo passou. Nada no sonho me fazia duvidar dos que estavam comigo no bar, ou eram boêmios vagabundos ou maconheiros, e traficante não mata maconheiro que compra droga na sua boca. Deviam estar de tocaia no enfrentamento com a polícia. Não sei.
Lembrei destas imagens logo que terminei de ler os depoimentos do cineasta José Padilha sobre as repercussões do fenônemo "Tropa de Elite". Não comprei no camelô (talvez compraria), mas assisti ao filme a partir da gravação que um amigo fez, baixada da internet.
Hoje é a pré-estréia do longa que conta os bastidores do Batalhão de Operações Especiais da Polícia, o BOPE. É assunto irrefutável em qualquer mesa de botequim, quiçá até as pessoas do sonho discutiam sobre. Ontem mesmo foi um dos temas abordados entre a rapaziada reunida num bar de Niterói. Eu também queria falar sobre, sedento em compartilhar minhas impressões pós-filme. Todos querem expor opinião, já que a realidade não só bate a nossa porta, ela entra sem bater, senta displicente no sofá e liga a televisão na Rede Globo para dispersar um pouco a tensão do dia-a-dia.
Ao contrário dos outros filmes que abordam essa tal realidade urbana que vive o Rio de Janeiro, "Tropa de Elite" conta a versão policial da história. E isto é válido para trocar figurinhas. Mas foi inesperada a polêmica respingada em todas as direções. A Polícia Militar nada gostou das acusações de descaso e corrupção das tropas, o BOPE também não aceitou as imagens de tortura exibidas, a classe média alta adorou ver o Wagner Moura dando uns sopapos nos favelados e a militância contra o caveirão achou que relevava a imagem da polícia.
Enquanto isto, vende como água nos camelôs as cópias piratas. Já tem até a terceira versão! A polícia agora é pop, doa a quem doer. Só falta surgirem bonecos "Falcons" uniformizados como "caveiras" do BOPE, e miniaturas do "Caveirão", como nos "Comandos em Ação". A política bélica do Estado do Rio caiu nas graças da população, e isto é preocupante.
Todo este afã pode amenizar a urgente necessidade de se rever o que o Governo do Estado anda fazendo com quem mora na favela e a forma romantizada que intelectuais e estudantes de ciências sociais vêem os traficantes.
A corrupção atende a todos: os "caveiras" são corruptíveis, assim como os presidentes das associações de moradores. A PM, então, nem se fala, pois a lama já ultrapassou a linha do pescoço.
Este "remédio amargo" é como eletrochoques em loucos desdenhados pelos psiquiatras. Deixando as metáforas de lado, quem desdenhou da população das favelas foi o Estado, durante décadas (sobretudo durante as rapinagens de Rosinha/Garotinho, Itagiba e Álvaro Lins).
O buraco é mais embaixo, "o bagulho é doido", "o alemão é mais complexo".
(na falta de um título para este texto, um trocadalho do carilho)
Boteco no alto de uma favela. Música alta ensurdecedora, fumaça e cheiro forte de cigarro no ar, mulatas e morenas jambo debruçadas no balcão, balançando os quadris semi-despidos. De repente, ouvem-se estampidos, tiros vindos de perto. O bar esvaziou-se e, sem me recordar a razão, permanecemos no local, enquanto entravam para averiguação alguns traficantes armados, com metralhadoras nas costas e pistolas na cintura.
No sonho, pensei: "Xi, fudeu! É minha hora." Comecei a contar os segundos que levariam para o grupos nos avistar, assim como imaginar quem cairia primeiro, ou ensaiar algum discurso de que éramos da paz e não iríamos atrapalhar em nada. Um deles falou:
- "Ih alá aqueles malucos ali!" - a aflição bateu, e eu acordei.
Acordei como se levasse uma martelada na cabeça. Coloquei a mão na testa e respirei ofegante. Mas o transtorno logo passou. Nada no sonho me fazia duvidar dos que estavam comigo no bar, ou eram boêmios vagabundos ou maconheiros, e traficante não mata maconheiro que compra droga na sua boca. Deviam estar de tocaia no enfrentamento com a polícia. Não sei.
Lembrei destas imagens logo que terminei de ler os depoimentos do cineasta José Padilha sobre as repercussões do fenônemo "Tropa de Elite". Não comprei no camelô (talvez compraria), mas assisti ao filme a partir da gravação que um amigo fez, baixada da internet.
Hoje é a pré-estréia do longa que conta os bastidores do Batalhão de Operações Especiais da Polícia, o BOPE. É assunto irrefutável em qualquer mesa de botequim, quiçá até as pessoas do sonho discutiam sobre. Ontem mesmo foi um dos temas abordados entre a rapaziada reunida num bar de Niterói. Eu também queria falar sobre, sedento em compartilhar minhas impressões pós-filme. Todos querem expor opinião, já que a realidade não só bate a nossa porta, ela entra sem bater, senta displicente no sofá e liga a televisão na Rede Globo para dispersar um pouco a tensão do dia-a-dia.
Ao contrário dos outros filmes que abordam essa tal realidade urbana que vive o Rio de Janeiro, "Tropa de Elite" conta a versão policial da história. E isto é válido para trocar figurinhas. Mas foi inesperada a polêmica respingada em todas as direções. A Polícia Militar nada gostou das acusações de descaso e corrupção das tropas, o BOPE também não aceitou as imagens de tortura exibidas, a classe média alta adorou ver o Wagner Moura dando uns sopapos nos favelados e a militância contra o caveirão achou que relevava a imagem da polícia.
Enquanto isto, vende como água nos camelôs as cópias piratas. Já tem até a terceira versão! A polícia agora é pop, doa a quem doer. Só falta surgirem bonecos "Falcons" uniformizados como "caveiras" do BOPE, e miniaturas do "Caveirão", como nos "Comandos em Ação". A política bélica do Estado do Rio caiu nas graças da população, e isto é preocupante.
Todo este afã pode amenizar a urgente necessidade de se rever o que o Governo do Estado anda fazendo com quem mora na favela e a forma romantizada que intelectuais e estudantes de ciências sociais vêem os traficantes.
A corrupção atende a todos: os "caveiras" são corruptíveis, assim como os presidentes das associações de moradores. A PM, então, nem se fala, pois a lama já ultrapassou a linha do pescoço.
Este "remédio amargo" é como eletrochoques em loucos desdenhados pelos psiquiatras. Deixando as metáforas de lado, quem desdenhou da população das favelas foi o Estado, durante décadas (sobretudo durante as rapinagens de Rosinha/Garotinho, Itagiba e Álvaro Lins).
O buraco é mais embaixo, "o bagulho é doido", "o alemão é mais complexo".
(na falta de um título para este texto, um trocadalho do carilho)
Um comentário:
Legal seu blog cara
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