- Qualquer coisa qualquer,
qual ou quanto quererias,
Se o acaso quisesse
Querer a partir do quanto
As coisas quaisquer
Deixassem de querer?
Qualquer coisa qualquer,
Se quiseres o querer,
O que quererias?
- Quereria quitutes!
Quereria quilos, quilombos,
Quilombolas, esquilos esquisitos,
Quiprocós, quinquilharias,
Quinhentos e quinze
Queixumes resolvidos
Pra nunca mais me queixar…
- Quê?! - Caí de queixo!
Porque é dela onde brotam fungos, transforma-se húmus, sucumbem túmulos, surgem larvas que se multiplicam e irradiam cheiro, cor e o ciclo da vida faz-se em flor.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Tu e eu
Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
E não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
(Luis Fernando Veríssimo)
*Em homenagem à minha querida Kellika.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
E não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
(Luis Fernando Veríssimo)
*Em homenagem à minha querida Kellika.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Casas
As pessoas
São como casas.
Destas de olhos tortos, portas fechadas,
Vou dizer:
Não suporto mais.
Gosto mesmo é daquelas mais banais,
Que me permitem brincar nos seus quintais.
Das do tipo escancaradas,
Confesso, páro na calçada,
Olho a menina parada na mureta, acho graça,
E espero o sinal da minha entrada.
Há as mais oferecidas,
De janelas tão convidativas,
Me cortejam com banquetes, manás,
Me despejam confortável nos sofás.
Umas tão pequenas que cabem em carteiras,
Outras imponentes como fortalezas,
Cinzas como pedras, verdes como ardósias,
Frias como mármores, alugadas ou próprias,
Já quitadas ou devedoras, leiloadas, invadidas,
Discretos chalés, sinceras choupanas,
Tristes castelos, abertas cabanas
Arranha-céus agressores da visão,
Apartementos enclausurados,
Separados do céu pelo terraço,
De braços abertos à solidão.
Espero um dia seu convite.
Só assim sei como é de verdade
A casa
E você.
São como casas.
Destas de olhos tortos, portas fechadas,
Vou dizer:
Não suporto mais.
Gosto mesmo é daquelas mais banais,
Que me permitem brincar nos seus quintais.
Das do tipo escancaradas,
Confesso, páro na calçada,
Olho a menina parada na mureta, acho graça,
E espero o sinal da minha entrada.
Há as mais oferecidas,
De janelas tão convidativas,
Me cortejam com banquetes, manás,
Me despejam confortável nos sofás.
Umas tão pequenas que cabem em carteiras,
Outras imponentes como fortalezas,
Cinzas como pedras, verdes como ardósias,
Frias como mármores, alugadas ou próprias,
Já quitadas ou devedoras, leiloadas, invadidas,
Discretos chalés, sinceras choupanas,
Tristes castelos, abertas cabanas
Arranha-céus agressores da visão,
Apartementos enclausurados,
Separados do céu pelo terraço,
De braços abertos à solidão.
Espero um dia seu convite.
Só assim sei como é de verdade
A casa
E você.
Quem sou?
No fundo confuso confundo com fuso
E sumo com sumo e consumo quem sou.
Quem sou?
Já não confundo mais.
Mas ainda não consumi.
E sumo com sumo e consumo quem sou.
Quem sou?
Já não confundo mais.
Mas ainda não consumi.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Exemplo da Providência
A repercussão do assassinato de três jovens no Morro da Mineira, a mando de um jovem tenente do Exército, chegou aos holofotes internacionais somente e graças aos próprios moradores do Morro da Providência. Se não fosse o intenso e revoltado protesto ocorrido em frente ao Comando Militar do Leste, na segunda-feira, dia 16, o caso iria ser esquecido pela mídia, tratado como os outros casos de assassinatos e ferimentos e mortes por bala perdida que ocorrem todos os dias nas favelas do Rio de Janeiro.
Um desses casos ocorreu na última terça-feira, dia 17, um pouco longe da região central carioca, na favela Cidade de Deus, na Zona Oeste. Uma criança de 8 anos foi atingida por uma bala perdida vinda de um confronto entre policiais e traficantes. O protesto dos moradores fechou a Linha Amarela, que liga a Barra da Tijuca ao Centro, na tarde de ontem, quarta-feira, dia 18.
Havia uma particularidade no caso ocorrido no Morro da Mineira, revelada no domingo, dia 15, pelos próprios militares. Foram agentes do Exército que levaram os três jovens à facção rival a que comanda o Morro da Providência, para terem uma "liçãozinha". Na segunda-feira, apesar da ordem ter partido de um comandante do Exército, os jornais não deram a relevância necessária. Novamente, se não fossem os protestos dos moradores da Providência, o que seria deste caso?
Teve tablóide que garantiu serem ordem partida dos traficantes os protestos dos moradores da Providência. Penso que, se isso for verdade, de que serve o Exército naquele lugar?
O Rio de Janeiro vive o cúmulo do descaso. Nos locais de favelas, o único braço do Estado que entrava era o repressor, denominado Polícia Militar. Na Providência, retiraram este braço e colocaram outro ainda mais truculento, que é um braço de guerra, chamado Exército.
Tomara que não chegue o dia em que teremos Vietnãs nos morros do Rio.
Um desses casos ocorreu na última terça-feira, dia 17, um pouco longe da região central carioca, na favela Cidade de Deus, na Zona Oeste. Uma criança de 8 anos foi atingida por uma bala perdida vinda de um confronto entre policiais e traficantes. O protesto dos moradores fechou a Linha Amarela, que liga a Barra da Tijuca ao Centro, na tarde de ontem, quarta-feira, dia 18.
Havia uma particularidade no caso ocorrido no Morro da Mineira, revelada no domingo, dia 15, pelos próprios militares. Foram agentes do Exército que levaram os três jovens à facção rival a que comanda o Morro da Providência, para terem uma "liçãozinha". Na segunda-feira, apesar da ordem ter partido de um comandante do Exército, os jornais não deram a relevância necessária. Novamente, se não fossem os protestos dos moradores da Providência, o que seria deste caso?
Teve tablóide que garantiu serem ordem partida dos traficantes os protestos dos moradores da Providência. Penso que, se isso for verdade, de que serve o Exército naquele lugar?
O Rio de Janeiro vive o cúmulo do descaso. Nos locais de favelas, o único braço do Estado que entrava era o repressor, denominado Polícia Militar. Na Providência, retiraram este braço e colocaram outro ainda mais truculento, que é um braço de guerra, chamado Exército.
Tomara que não chegue o dia em que teremos Vietnãs nos morros do Rio.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Zecabaleirar ou zecapagodear?
Hoje eu queria acordar com uma vontade danada
de mandar flores ao delegado
de bater na porta do vizinho e desejar bom dia
de beijar o português da padaria.
Eu queria que a vida me levasse.
- Vida, leva eu?
de mandar flores ao delegado
de bater na porta do vizinho e desejar bom dia
de beijar o português da padaria.
Eu queria que a vida me levasse.
- Vida, leva eu?
Sinal de revolta
Acabei de ter uma vontade brutal de apagar isso tudo, por achar que isso tudo aqui não passa de uma bosta fedida e improdutiva, incapaz de fertilizar nem os campos fertilizados por cocô de passarinhos. Sou impulsivo, e já tive isso outra época, com a primeira versão desta Antologia.
Posso ser impulsivo à vontade. Mas basta não ser tão desmemoriado a ponto de lembrar que todo este estrume faz juz ao nome do blógue.
Que se feda mais e mais.
Posso ser impulsivo à vontade. Mas basta não ser tão desmemoriado a ponto de lembrar que todo este estrume faz juz ao nome do blógue.
Que se feda mais e mais.
domingo, 15 de junho de 2008
Cultura
"O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.
O bigode é a antena do gato.
O cavalo é o pasto do carrapato.
O cabrito é o cordeiro da cabra.
O pescoço é a barriga da cobra.
O leitão é um porquinho mais novo.
A galinha é um pouquinho do ovo.
O desejo é o começo do corpo.
Engordar é tarefa do porco.
A cegonha é a girafa do ganso.
O cachorro é um lobo mais manso.
O escuro é a metade da zebra.
As raízes são as veias da seiva.
O camelo é um cavalo sem sede.
Tartaruga por dentro é parede.
O potrinho é o bezerro da égua.
A batalha é o começo da trégua.
Papagaio é um dragão miniatura.
Bactéria num meio é cultura."
(Arnaldo Antunes)
O silêncio é o começo do papo.
O bigode é a antena do gato.
O cavalo é o pasto do carrapato.
O cabrito é o cordeiro da cabra.
O pescoço é a barriga da cobra.
O leitão é um porquinho mais novo.
A galinha é um pouquinho do ovo.
O desejo é o começo do corpo.
Engordar é tarefa do porco.
A cegonha é a girafa do ganso.
O cachorro é um lobo mais manso.
O escuro é a metade da zebra.
As raízes são as veias da seiva.
O camelo é um cavalo sem sede.
Tartaruga por dentro é parede.
O potrinho é o bezerro da égua.
A batalha é o começo da trégua.
Papagaio é um dragão miniatura.
Bactéria num meio é cultura."
(Arnaldo Antunes)
Devotos de Moria III
E o desastrado vivia distraidamente,
Separava arredio o corpo da mente,
Saía dos lugares onde é convidado
Se metia em confusão onde não é chamado,
Tropeçava e caía de cara no chão,
Toda hora que abria a porta da percepção,
Perturbava a cabeça a santa paciência,
Um divã e uma dose pra tanta demência.
Fala o que sempre foi dito.
Age como nunca neste mundo.
Surpreende com seus absurdos.
Quer-se e sempre será querido.
Bota uma camisa-de-força
E sai sambando pelas ruas.
Despe essa madura alma dura.
Veste a fantasia mais tola.
Se engasgava ao ingerir o tal maná dos deuses,
Refutava o zen-budismo dos montes chineses.
Refletia-se aos cacos no espatifado espelho,
De pileque, fica sóbrio, e de cara, fica bêbado
Estirado no chão,
Fumou cigarro a varejo,
Depois do gozo na cama
E do inesperado beijo.
Cada passo que seguia friamente calculado
Por testemunhas oculares de fatos bisbilhotados
Conforme suas faculdades débeis mentais,
Dito sob alucinações de mapas astrais
Tal qual amestrados modelos científicos
Descobertos por pesquisadores dos hospícios,
É quase sem querer ou sem querer querendo?
É não pensar em dizer o que não se diz?
É não tentar entender a quê se está tendendo?
É não dizer o pensar num já rompido triz?
Chegou agora do inferno,
Mas já está indo pro céu
Veio com seu novo terno,
Engomado no pinel.
Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu...
Separava arredio o corpo da mente,
Saía dos lugares onde é convidado
Se metia em confusão onde não é chamado,
Tropeçava e caía de cara no chão,
Toda hora que abria a porta da percepção,
Perturbava a cabeça a santa paciência,
Um divã e uma dose pra tanta demência.
Fala o que sempre foi dito.
Age como nunca neste mundo.
Surpreende com seus absurdos.
Quer-se e sempre será querido.
Bota uma camisa-de-força
E sai sambando pelas ruas.
Despe essa madura alma dura.
Veste a fantasia mais tola.
Se engasgava ao ingerir o tal maná dos deuses,
Refutava o zen-budismo dos montes chineses.
Refletia-se aos cacos no espatifado espelho,
De pileque, fica sóbrio, e de cara, fica bêbado
Estirado no chão,
Fumou cigarro a varejo,
Depois do gozo na cama
E do inesperado beijo.
Cada passo que seguia friamente calculado
Por testemunhas oculares de fatos bisbilhotados
Conforme suas faculdades débeis mentais,
Dito sob alucinações de mapas astrais
Tal qual amestrados modelos científicos
Descobertos por pesquisadores dos hospícios,
É quase sem querer ou sem querer querendo?
É não pensar em dizer o que não se diz?
É não tentar entender a quê se está tendendo?
É não dizer o pensar num já rompido triz?
Chegou agora do inferno,
Mas já está indo pro céu
Veio com seu novo terno,
Engomado no pinel.
Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu,
Vai pro céu...
Na seqüência
AS CONSEQÜÊNCIAS
SERÃO TOMADAS NA
SEQÜENCIA.
SERÃO TOMADAS NA
SEQÜENCIA.
MELHOR TOMÁ-LAS
Do que SOFRÊ-LAS.
Do que SOFRÊ-LAS.
As conseqüências são inconseqüêntes,
Antes tê-las do que surpreender-se.
Tão fugidias, tão delinqüentes,
Quero ser surpreendido pelo inconseqüente,
Na seqüência das conseqüências.
Quero ser surpreendido pelo inconseqüente,
Na seqüência das conseqüências.
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