sexta-feira, 14 de março de 2008

Devotos de Moria II

E o desastrado vivia
Separando o corpo da mente,
Batendo a cabeça nas quinas da sã consciência,
Tropeçando nos próprios pés pelas portas da percepção,
Falando pelos cotovelos no divã da psiquiatria,
Dando nós na garganta diante da perplexidade do real,
Quebrando espelhos do próprio reflexo,
Respirando ofegante no zen-budismo das altas montanhas,
Engasgando-se ao ingerir o maná dos deuses,

Mais pensava ou mais agia?
Cada passo que seguia friamente calculado
Segundo testemunhas oculares bisbilhoteiras;
Conforme a faculdade débil mental;
Tal qual as regras geométricas amestradas;
Pesquisado por cientistas do pinel,

Era eletrochocado pela realidade
De inéditos clichês
E camisas-de-força a um
E noventa
E nove.

Noves fora zero à esquerda!
Porque tudo é tudo
E nada é nada
- assim filosofou Dom Maia.

O desastrado mente de vez em sempre,
Sai de casa sem grana e volta bêbado,
Não gasta dinheiro no cigarro a varejo,
Goza na cama depois do inesperado beijo.

É sem querer querendo ou quase sem querer,
É não pensar em dizer o que não se pensa
Ou em não dizer o pensar naquilo que não se diz?

Apenas versos desastrados.

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