terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Todos os dias, faça chuva ou sol, os moradores ao longo de toda a extensão das ruas Amaro Cavalcante e Clarimundo de Melo, ruas principais que cortam os bairros de Engenho de Dentro, Piedade e Quintino, Zona Norte do Rio, têm o costume de colocar os lixos domésticos nas calçadas, ao pé dos postes, a espera dos caminhões da Comlurb. Quem passou por estas vias durante o temporal, percebeu como haviam se tornado um caldeirão de sacos plásticos de supermercado cheios de lixo, destruídos ou fechados com apressados nós.

Como colocar a culpa por tragédias decorrentes de hábitos culturais tão atrelados ao comportamento de quem chora e pede piedade? O sofrimento da família que perdeu o filho de 9 anos afogado pelas enchentes contrastava com a euforia dos moradores diante à paisagem dantesca que fez de suas calçadas um rio de barrentas águas imundas. Crianças e adolescentes pulavam as marolas cheias de lixo que surgiam a cada veículo que passava. As imagens divulgadas na TV mostravam o menino de 9 anos tentando retirar um bueiro, talvez por puerilidade ou tentativa de solucionar a catástrofe.

Todo Mundo Explica

Raul Seixas

Composição: RAUL SEIXAS

Não me pergunte por que
Quem-Como-Onde-Qual-Quando-O Que?
Deus, Buda, O tudo, O nada, O ocaso, O cosmo
Como o cosmonauta busca o nado, o nada
Seja lá o que for, já é

Não me obrigue a comer
O seu escreveu não leu
Papai mordeu a cabeça
Do Dr. Sugismundo
Porque sem querer cantou de galo
Cada cabeça é um mundo Gismundo
Antes de ler o livro que o guru lhe deu
Você tem que escrever o seu

Chega um ponto que eu sinto que eu pressinto
Lá dentro, não do corpo, mas lá dentro-fora
No coração e no sol, no meu peito eu sinto
Na estrela, na testa, eu farejo em todo o universo
Que eu to vivo
Que eu to vivo
Que eu to vivo, vivo, vivo como uma rocha
E eu não pergunto
Porque já sei que a vida não é uma resposta
E se eu aconteço aqui se deve ao fato de eu
simplesmente ser
Se deve ao fato de eu simplesmente

Mas todo mundo explica
Explica, Freud, o padre explica, Krishnamurti tá
vendendo
A explicação na livraria, que lhe faz a prestação
Que tem Platão que explica, que explica tudo tão bem vai lá que
Todo mundo explica
protestante, o auto-falante, o zen-budismo,
Brahma, Skol
Capitalismo oculta um cofre de fá, fé, fi, finalismo
Hare Krishna, e dando a dica enquanto aquele
papagaio
Curupaca e implica
Com o carimbo positivo da ciência que aprova
e classifica

O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha pra depois apagar
Você já foi ao espelho, não?
nego?
Então vá!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Madrugada vagaba

Meu lugar está momentaneamente vago,
Pois, noctívago, saí a vagar
Pela vagabunda madrugada,
Que nada faz e tudo silencia,
E só assim me permite ouvir
Seu estrondoso sussurro, que me diz:
-Aproveita, daqui a pouco é dia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Já consegui colocar as palavras "paralelepípedo" e "inconstitucionalissimamente" em versos. Faltam agora "otorrinolaringologista" e "proparoxítona".

Outro mundo possível

Um jornalista para outro mundo possível. Pode parecer utópico, pois este mundo aí que apregoam os bispos da imprensa tem ilusões tentadoras. Mas tem gente que já faz por onde.

Cliquem e confiram a "sinfonia":

http://narrativasparaumoutromundopossivel.wordpress.com
Não sou de se jogar fora,
Mas algumas vezes me encontro
Perdido como um pinto no lixo,
Ou largado na calçada
Como um chinelo esquecido que perdeu o par,
Mas que caminha chutado pela alta madrugada.

Essa rua, essa rua,
Bem que poderia ser minha,
Mas esse paralelepípedo agora me pertence,
Ao menos até quando me servirem
O sol da manhã.

A desobediência

"Sou nobre demais para ser posse,
ser um subalterno no comando,
Ou mesmo servo e instrumento útil
A qualquer Estado soberano deste mundo."

domingo, 8 de março de 2009

Prato do dia: sapo

Prato do dia: sapo,
Engolido cru, não é a molho pardo nem guisado.
A carne é fraca, mas bate na barriga como estaca,
Alimenta a mente inconscientemente,
E ainda deixa uma ressaca da braba.

O troco só chega no fim do mês.
O valor é oco e não sacia o freguês.
Não esqueça da janta, e de pagar a conta.
Neste mundo a pessoa que se denomina santa,
É a primeira que aponta.

Lembre-se bem disso:
"Até a primeira crítica, todas as idéias são perfeitas."
(eu)

Violo

Você viu o comportamento vil do homem?
É da natureza, é a lei de cada um
A violência, a violação da lei,
E por que não um direito do homem
Violar a lei que se sobrepõe à sua?
Se Adão e Eva comeram a maçã,
Violadores da lei divina,
Eu, que sou mais besta,
Posso violar, ciente das conseqüências.

Violo uma canção com a viola na mão,
Violo as diretrizes em melodias
Transgressoras e em cores da vida
Que passa diante dos olhos,
Que para além foi e vai e irá,
Violentamente, violetamente,
Violenta a mente.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fronteiras

Fronteiras dentro do país,
Legalmente
Incapazes de serem ultrapassadas
Pelos sem identidade,
Sem legalidades.

Estes são
Inconstitucionalissimamente
Livres,
Subjúdices,
Subjulgados,
Achatados no subsolo
Dos limites
Municipais,
Estaduais,
Internacionais.

Mas os andarilhos universais
Sabem os Direitos do Homem,
Desconhecidos pelos que andam
Nos caminhos da Constituição.

Buscar-se a si mesmo

Dizem que se perder é algo fácil. Perder-se é não se encontrar.

Mas como se perder se sempre levamos conosco, a todos os lugares que freqüentamos, tudo que construimos e carregamos até o prezado momento desta vida?

Falo em se perder para logo após se encontrar, e daí ressurgir. Ressurgir é revigorar-se, tomar nova consciência sobre o que se tem à volta.

E, às vezes, este encontro só é possível quando se encontra a si mesmo nas condições mais primitivas ou inóspitas possíveis.

O ser humano também pode ser Fênix.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A ideia no Hai Kai

A poesia é libertária,
Ou são as idéias que, de tão soltas,
Se agarram nos versos?

As ideias rebeldes

Na plenária da Assembléia da Gramática,
Autoridades pediram a palavra e
Peremptoriamente,
Retiraram o assento das ideias.

Elas, então, se rebelaram, perdendo até o acento.

Duas duras realidades

Dura realidade I "Quando a lenda se transforma num fato, publica-se a lenda", disse o jornalista sensacionalista do clássico f...