sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Onde se esconde o preconceito?

"O racismo sempre existirá enquanto os homens continuarem a ser caricaturas de homens, bois movidos a dinheiro, pouco ou nada conhecendo de si mesmos e do mundo. Enquanto alguém classificar as pessoas em raças, o racismo continuará triunfando, pois só existe uma raça, a humana."

"O Brasil? Claro que é racista. Verdade que em menos escala, por causa da miscigenação com os portugueses e por incluir os pobres em geral. Ao contrário do que acontecia nos EUA, as brancas não eram linchadas por terem filhos com pretos, o que entre nós sempre foi lugar comum, digo a relação sexual entre brancos e negros. Em verdade, talvez, o Brasil tenha a maior população mulata do mundo.

"Por outro lado, às vezes ocorre um fenômeno estranho à primeira vista: os negros que são aceitos pela sociedade branca. Esses, porém, têm de apresentar talentos fora do comum. Precisam ser grandes, ricos e poderosos. Atletas, cantores, atores, apresentadores de TV, cientistas, empresários bem-sucedidos."

(Fausto Wolff)

Categorizar, classificar, rotular tudo que está diante dos olhos sempre foi passatempo preferido da estúpida racionalização exacerbada do homem. Essa prática levou a distinção em raças, preto, branco, amarelo, vermelho, e a história mal escrita ajudou a estigmatizar raças superiores vencedoras e inferiores e perdedoras. Tudo linhas mal traçadas pela perversidade da mente humana.

O racismo está na essência da malfadada distinção e tornou-se um lixo cultural que, aos poucos, começa a ser despejado pelo ralo. Minha avó, branca, que não sabe nem escrever o próprio nome, é racista, de chamar pretos de macacos. Mudar a consciência dela, hoje, é impossível. As novas gerações, em grande parte, e eu me incluo, não vê as diferenças de cor ou cabelo. A raça é humana, e colocar isso na cabeça é um grande avanço.

O racismo existe e está nítido nos desiguais índices sociais, que a passos muito lentos vão se tornando mais justos. Na minha turma na UFF, havia três negros e diversos mulatos. Numa turma da PUC, certamente o número é bem menor. Já conheci editor de jornal que disse ser proibido fotografias de negros na 1ª página, exceto criminosos ou celebridades. Todos os dias, quando ando pelas ruas, vejo gente mudando de calçada porque, na direção contrária, vem vindo algum negro. A novela das nove, da Rede Globo, mostra um político negro, corrupto, interpretado por Milton Gonçalves. De todo elenco, apenas ele e mais três atores são negros.

Conheci um camarada de Angola, negão mesmo, fazia pós-graduação em Letras na UFF. Para ele, o conceito de raça é algo concretizado: ele é preto, de cabelo preto e duro; eu sou branco, de cabelo amarelo e liso. Nossa conversa não evoluia a partir deste ponto, talvez porque para ele, ser negro, africano, discriminado e de um país excluído da globalização seja algo tão marcante em sua cultura. Na minha cultura, brasileira, miscigenada, carioca, não há porque se sentir diferente, como ele se sentiu, numa roda de samba onda dançam brancos, negros, gordos ou magros.

Porém o racismo ainda persiste. Os negros se desdobram mais do que brancos. Precisam estar bem vestidos para subirem pelo elevador social ou até mesmo não serem confundidos com marginais. Estes absurdos ainda acontecem.

Mas o Brasil aos poucos se conscientiza de sua miscigenação. O caso do jogador Grafite foi um exemplo de que a sociedade se demonstra intolerante ao racismo. Diante da Constituição, discriminação racial é crime.

Vejo uma saída para que se extirpe de vez o câncer chamado racismo: deve-se valorizar e incorprar, cada vez mais, o legado dos descendentes de escravos deste país, toda contribuição à cultura brasileira, todas as raízes, não através de cotas ou contrapartidas históricas, mas com a finalidade de fortalecer nossa identidade. E não apenas dos negros, mas de todos aqueles que contribuiram para nossa formação, índios, europeus, japoneses, etc.

A mídia e nós, como comunicadores, temos o dever de resgatar estes legados. Quando um canal de televisão não privilegia nossa cultura, pois só pensa nos negócios e em comprar enlatados, cheios de preconceitos, belezas padronizadas, etc, ele presta um grande desserviço à sociedade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Texto ruim. Blazè. Já teve dias mais felizes. Persista.

Girabela disse...

E com tudo isso ainda vem um tal de Ali Kamel para dizer que "Não somos racistas".

Anônimo disse...

O argumento do livro se refere a não sermos racistas culturalmente. QUe a cultura brasileira não é racista especialmente. O que não significa que os seres humano vão deixar de discriminar outros. Isso é da natureza humana acredito eu.

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