terça-feira, 25 de junho de 2013

Conectados

Meus amigos todos estão conectados
Mas ninguém sabe o que vai rolar mais tarde.
Todos saem sem fazer alarde,
Sabem bem da gama de possibilidades
De que cada instante pode ser,
De que cada segundo pode durar
Por toda eternidade.

Será que amanhã estarão todos com saudade?

Meus amigos todos estão pela cidade
Andam sob ruas, pairam sobre lajes
Todos chegam sem fazer alarde
Desconhecem riscos e instabilidades
De que cada pessoa pode ser
De que cada ser humano pode virar
Uma celebridade.

Inimigos, inimigos

Inimigos, inimigos,
Negócios a parte.
De que lado que eu brigo?
A guerra é uma arte.

Bandido, bandido,
Está me dando trabalho.
Será que fico arrependido?
Ele paga meu salário.

Bato ponto em hora extra
E nem sobra pra cerveja,
Pra onde tá indo meu quinhão?

Sangria, sangria,
A bolsa foi esfaqueada
Pelo estado, pelo empresário,
Jogaram o público na privada.

Lobo mau fazendo lobby,
E vovozinha tão esnobe,
Ninguém quer deixar de ser patrão.

Conexões e tubos,
Diques e propinodutos,
Sempre vai sair pelo ladrão.

Manifesto e Estatudo do Homem

Tá faltando poesia nas manifestações populares.

A violência arde os olhos.
A liberdade de expressão que aparece
Aperta os nós na garganta.
A mudez da paz conclama para a luta
Contra o método de cura,
Via remédio amargo
De cápsulas de bala perdida. 

E numa plena segunda-feira,
Entrou como raio de sol pela janela,
Uma coragem nunca antes na história,
E se abriram os olhos do gigante,
Belo adormecido,
Num berço esplêndido
Há meio milênio.

Vai então a sugestão ao Congresso Nacional para que aprove cada artigo abaixo! Se precisarem de um plebiscito para votarem nele, que o país faça um plebiscito! Tirado de um poeta que imortalizou o poema abaixo, e que já até vi o Artigo II pintado num muro...

 ESTATUTO DO HOMEM (Ato Institucional Permanente)

                                           A Carlos Heitor Cony



    Artigo I

   Fica decretado que agora vale a verdade.
   agora vale a vida,
   e de mãos dadas,
   marcharemos todos pela vida verdadeira.


   Artigo II
   Fica decretado que todos os dias da semana,
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


   Artigo III

   Fica decretado que, a partir deste instante,
   haverá girassóis em todas as janelas,
   que os girassóis terão direito
   a abrir-se dentro da sombra;
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
   abertas para o verde onde cresce a esperança.


   Artigo IV

   Fica decretado que o homem
   não precisará nunca mais
   duvidar do homem.
   Que o homem confiará no homem
   como a palmeira confia no vento,
   como o vento confia no ar,
   como o ar confia no campo azul do céu.

           Parágrafo único:

           O homem, confiará no homem
           como um menino confia em outro menino.


   Artigo V

   Fica decretado que os homens
   estão livres do jugo da mentira.
   Nunca mais será preciso usar
   a couraça do silêncio
   nem a armadura de palavras.
   O homem se sentará à mesa
   com seu olhar limpo
   porque a verdade passará a ser servida
   antes da sobremesa.


   Artigo VI

   Fica estabelecida, durante dez séculos,
   a prática sonhada pelo profeta Isaías,
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.


   Artigo VII
   Por decreto irrevogável fica estabelecido
   o reinado permanente da justiça e da claridade,
   e a alegria será uma bandeira generosa
   para sempre desfraldada na alma do povo.


   Artigo VIII

   Fica decretado que a maior dor
   sempre foi e será sempre
   não poder dar-se amor a quem se ama
   e saber que é a água
   que dá à planta o milagre da flor.


   Artigo IX
   Fica permitido que o pão de cada dia
   tenha no homem o sinal de seu suor.
   Mas que sobretudo tenha
   sempre o quente sabor da ternura.


   Artigo X
   Fica permitido a qualquer pessoa,
   qualquer hora da vida,
   o uso do traje branco.


   Artigo XI

   Fica decretado, por definição,
   que o homem é um animal que ama
   e que por isso é belo,
   muito mais belo que a estrela da manhã.


   Artigo XII

   Decreta-se que nada será obrigado
   nem proibido,
   tudo será permitido,
   inclusive brincar com os rinocerontes
   e caminhar pelas tardes
   com uma imensa begônia na lapela.

           Parágrafo único:

           Só uma coisa fica proibida:
           amar sem amor.


   Artigo XIII

   Fica decretado que o dinheiro
   não poderá nunca mais comprar
   o sol das manhãs vindouras.
   Expulso do grande baú do medo,
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
   para defender o direito de cantar
   e a festa do dia que chegou.


   Artigo Final.

   Fica proibido o uso da palavra liberdade,
   a qual será suprimida dos dicionários
   e do pântano enganoso das bocas.
   A partir deste instante
   a liberdade será algo vivo e transparente
   como um fogo ou um rio,
   e a sua morada será sempre
   o coração do homem.
  Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

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